sábado, 22 de dezembro de 2007

In memoriam

Maria das Dores de Jesus. Foi este o nome que os meus bisavós resolveram dar à sua quarta filha, a minha avó. Maria das Queixas, chamava-lhe a sua habitual farmacêutica. A Maria das Queixas lamentava-se das pontadas mas gabava-se de não saber o que era uma dor de estômago ou de cabeça. Foram 88 anos sem o saber mas os últimos 8, invadidos por uma maldita doença de Alzheimer, foram-na levando aos poucos para mais longe de nós. Sentada ao nosso lado mas cada vez mais longe.
Agora está fisicamente longe. Definitivamente longe.
Perdi a última dos meus avós. Tinha perdido os outros dois aos 13 anos, num espaço de 6 meses. Há 10 anos perdi o meu pai. Olho para trás e vejo cada vez menos gente. Mas quando olho para trás vejo também uma infância plena de recordações daqueles intermináveis verões passados em casa dos meus avós. Julho, Agosto e Setembro a chorar baba e muco nasal com saudades da minha mãe mas recheados de brincadeira, praia, muita praia, e aventuras com a tia mais nova.
Vejo outros natais com a casa dos meus avós abarrotada de filhos e netos e o meu avô a soprar por todos os cantos sem conseguir disfarçar o desconforto de ver a sua rotina tão alterada.
Vejo a cozinha da minha avó e aquela mesa à volta da qual tanto se contou e tanto se ouviu. E aquele forno de onde saíram os mais deliciosos petiscos por ela confeccionados.
Vejo aquele quintal de muro alto para dentro do qual nada se via mas tanto se ouvia: gargalhadas, muitas, noite dentro. Era ver quem conseguia ser mais disparatado. Ganhou a minha tia Irene que, por 500 paus, deu a volta ao lugar com o robe mais ridículo que alguma vez vi.
A minha avó partiu após uma angustiante hospitalização. A vó Dores era velhinha mas era minha, era nossa, e embora quase tenha dado comigo em doida durante esses anos de Alzheimer, vou ter muitas saudades dela. E quero deixar aqui o meu testemunho, aqui na “ternet” como ela lhe chamava e que tanto a intrigava. Dizia-me ela uma vez: “Ouve lá, oh A., então isso da ternet é tão bom, tão bom e não dá para apanhar esse bin Laden?”
O Natal de 2007 vai ser mais triste mas consola-me a recordação de outros natais maravilhosos.
A todos os que por aqui passarem desejo um Feliz Natal e um Ano Novo tão bom que quando um dia se lembrarem de 2008 tenham dele tão boas recordações como eu tenho da vó Dores.


Em memória da vó Dores,
29 de Julho de 1919 – 17 de Dezembro de 2007

3 comentários:

Laurentina disse...

Para ti um beijão grande no teu coração .
Feliz Natal minha querida.
Fizeste-me chorar...

Anónimo disse...

Ainda não tinha tido tempo de cá voltar e acabei por não o fazer na melhor altura, ou seja, no emprego.

Aqui as lágrimas não são adequadas mas é dificil deixa-las cá dentro.

A vó Dôres também era minha e as memórias de tempos felizes são as mesmas. Esse tempo não vai voltar assim como a vó Dôres e o seu arroz doce também não voltam.

Olhemos para o futuro e vamos lá ver se vamos conseguir deixar à geração seguinte as boas recordações que nos deixaram a nós.

Beijões manoca e já muitas saudades.

Anónimo disse...

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