De um blog que está inactivo durante dois meses não se pode esperar que prime pela actualidade do comentário. Este intróito serve para justificar o facto de o presente post versar sobre aquela leizinha sobre o sal no pão que os nossos aterafadíssimos deputados aprovaram em Março passado. Os nossos ilustríssimos representantes, à falta de mais que fazer, dedicaram-se a legislar sobre o número de gramas de sal que cada 100 gramas de pão deve ter. Espero que me esclareçam brevemente a quantidade de gel duche que posso utilizar no banho (partindo do princípio que não me obrigam a usar sabão azul), a quantidade de açucar que posso pôr no café (partindo do princípio que o café enquanto agente hipertensor ainda permanecerá votado ao ostracismo) ou os jornais que posso ler (ok, as duas primeiras eram brincadeirinha...). Ás vezes fico a pensar o que génios como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa escreveriam sobre o Portugal de hoje. Bem, o Eça escreveria a mesma coisa. O Pessoa, se calhar, em vez disto:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Escreveria isto:
Ó pão salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te comermos, quantos esfigmomanómetros explodiram
Quantas salinas secaram
Quantos deixaram de medir a tensão
Para que fosses nosso , ó pão
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a carcaça não é pequena
Quem quer dar sabor ao paposeco
Tem de traficar sal num beco
O governo ao pão o perigo e o abismo atribuiu
E só me resta dizer-lhes: puta que os pariu
1 comentário:
Eu não vinha cá há uns dias mas está a valer a pena :-)
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