segunda-feira, 18 de maio de 2009

Deputados pãozinho sem sal II

De um blog que está inactivo durante dois meses não se pode esperar que prime pela actualidade do comentário. Este intróito serve para justificar o facto de o presente post versar sobre aquela leizinha sobre o sal no pão que os nossos aterafadíssimos deputados aprovaram em Março passado. Os nossos ilustríssimos representantes, à falta de mais que fazer, dedicaram-se a legislar sobre o número de gramas de sal que cada 100 gramas de pão deve ter. Espero que me esclareçam brevemente a quantidade de gel duche que posso utilizar no banho (partindo do princípio que não me obrigam a usar sabão azul), a quantidade de açucar que posso pôr no café (partindo do princípio que o café enquanto agente hipertensor ainda permanecerá votado ao ostracismo) ou os jornais que posso ler (ok, as duas primeiras eram brincadeirinha...). Ás vezes fico a pensar o que génios como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa escreveriam sobre o Portugal de hoje. Bem, o Eça escreveria a mesma coisa. O Pessoa, se calhar, em vez disto:


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Escreveria isto:


Ó pão salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te comermos, quantos esfigmomanómetros explodiram
Quantas salinas secaram
Quantos deixaram de medir a tensão
Para que fosses nosso , ó pão


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a carcaça não é pequena
Quem quer dar sabor ao paposeco
Tem de traficar sal num beco
O governo ao pão o perigo e o abismo atribuiu
E só me resta dizer-lhes: puta que os pariu

1 comentário:

Okelani disse...

Eu não vinha cá há uns dias mas está a valer a pena :-)