sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Eu é que sou o engenheiro

Já lá vão uns meses desde o imbróglio da licenciatura do primeiro ministro. Veio a presidência da União Europeia e suspenderam-se temporariamente as hostilidades. Chegou a tão esperada remodelação mas, mais relevante do que as mudanças que poderá trazer ao executivo, deixa no ar a dúvida: afinal enganaram-se ou não no número de telefone e confundiram os Pinto Ribeiro?
Se estavam com saudades de ver o primeiro ministro entalado é só ler a notícia em destaque na edição de hoje do “Público”. Segundo este jornal, na década de 80 José Sócrates assinou vários projectos de engenharia e arquitectura que não eram da sua autoria. São conhecidas como “assinaturas de favor” mas, enfatizam os especialistas, não constituem crime. São meros esquemas ardilosos para contornar a lei, portanto.
Quem se lembra deste post e quem me conhece sabe que nutro um especial interesse pela construção civil. Não, não é a minha área profissional mas numa determinada fase a minha vida rodopiou à volta de projectos de arquitectura, cálculos de ferro, licenças de construção, câmara municipal , engenheiros e trolhas.
Não acredito que seja preciso ter um passado de tijolo e cimento como o meu para saber que esta prática é corrente em qualquer câmara municipal deste país. E é com muita certeza que digo que esta não é a pior embora isso não a torne menos grave. Porque se é verdade que há muitos engenheiros que assinam projectos que não são seus muitos outros há que são responsáveis pelo acompanhamento da obra e só marcam presença uma vez por mês para lembrar ao proprietário que está na altura do pagamento. Nessa altura pegam no livro de obra, perguntam ao empreiteiro (se ele lá estiver, se não ao primeiro servente que lhe apareça à frente) “o que é que fizeram?”, assina o livro e despede-se sempre a olhar para o chão certificando-se que não leva lama nas botas Timberland acabadinhas de comprar. Entretanto, quando o trolha lhe responde “hoje fizemos bacalhau, amanhã acho que o almoço são iscas”, o senhor engenheiro já não o ouve por causa do barulho do seu Porsche Cayenne.

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