quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Husband swap


A dona Maria Braselina nem queria acreditar quando viu que o homem que lhe entregaram em casa não era o mesmo a quem ela se tinha entregue perante Deus. Mas acabou por acreditar, ao fim de muitas, mas mesmo muitas, dicas.
Segundo relatou a própria aos jornalistas a neta já lhe tinha feito sinal a avisar que aquele não era o avô mas ela nem ligou. Ora, aqui falta informação, porque numa notícia o detalhe é tudo. Ou acham que é em vão que me chamo nitpicker?
Que tipo de sinal terá sido esse? Uma piscadela de olhos? Um fungar seguido de tosse fictícia? Linguagem gestual porque a avó ouve mal? (que ela vê mal é conclusão fácil de tirar). Penso que não. A ver pela pouca atenção que a dona Maria prestou à neta só pode ter sido uma coreografia de gestos como aqueles que os jogadores de “baseball” são exímios a executar. O que é certo é que não acreditou nela. Afinal a miúda tem só 12 anos e parece que na família a capacidade para reconhecer o próprio avô só chega mais tarde, junto com a capacidade jurídica e a capacidade de atar os atacadores sem ficar com um dedo preso. Isto para as meninas porque para os meninos o que vale é a capacidade de fechar o fecho “éclair” das calças sem ficar com a ...hmm...”there’s something about mary” entalada.
Mas dona Maria continuava com a pulga atrás da orelha. E um elefante à frente dos olhos a julgar pela dificuldade em perceber que aquele não era o seu homem. A desconfiança adensou-se quando viu a cara esfacelada. Façamos um exercício: fechemos os olhos e imaginemos a dona Maria, vergada sobre a maca, a alguns centímetros do rosto daquele homem, a desconfiar em silêncio, enquanto cofia o queixo: ” Hmm, este não parece nada o meu Zé. Ouve lá, põe lá a cara de lado. Agora do outro. Hmm... Há aqui qualquer coisa que não tá bem... Oh Carina, traz aí uma fotografia do avô”.
Mas como a cara não lhe revelava informação suficiente virou-se para os pés e fez-se luz. Ou alguém acendeu a luz, vá lá saber-se. Quando somos levados a pensar que o sr. Raposo terá nos pés alguma marca de nascença ou uma unha encravada que o diferencia de qualquer outro utente do SNS descobrimos que é a ausência de meias que tudo esclarece. É normal. Eu não sou casada mas calculo que uma mulher até pode não reconhecer o marido quando o olha olhos nos olhos mas uns pés nús disspam qualquer dúvida. Foi então que dona Maria desbafou: “Que me caia já aqui um velho de Anadia se este não é o meu marido”.
Dona Maria tinha há dias visto o José Rodrigues dos Santos, no Telejornal, a falar de uma moda entre casais chamada “swing” mas nunca imaginou ver-se nessa situação, ainda para mais sem a parte divertida. E a calma que até aí tinha exibido desapareceu: “O senhor que estava na maca ainda me agarrou na mão e disse: ‘Tens a mão tão fria!’ Aí é que fiquei passada e disse ao bombeiro: ‘Leve-o daqui por favor que ele não é o meu homem!’”. Presume-se que foi o tom delicado do falso marido que o traiu. Zé Raposo nunca usaria tanta cortesia. “F***-se, que tens as patas geladas” teria sido o comentário se se tratasse do amor da sua vida.
A família não quer apresentar queixa porque já teve “chatices suficientes” mas dona Maria teme que o marido “ganhe medo ao hospital e não queira lá voltar”. Eu, no lugar do sr. Raposo não teria medo de voltar ao hospital. Mas com uma família destas eu teria medo, muito medo, de voltar para casa...

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez parti-me a rir...
Jokas