quarta-feira, 25 de abril de 2007

Ninguém explica o 25 de Abril


É incontornável passar o dia de hoje sem falar sobre o 25 de Abril de 1974.
Por ter nascido em 1973 não tenho experiência pessoal dos tempos que antecederam essa data.
A cada ano que passa e que reflicto sobre essa época são sempre as mesmas questões que me assolam o espírito: a liberdade e o ensino do 25 de Abril nas escolas. Por agora vou limitar-me à segunda.
Entrei para a escola primária em 1979. Para o que na altura se chamava liceu em 1983. Acabei o 12° ano em 1991. Tive 8 anos consecutivos a disciplina de história (do agora 5° ano ao 12°), sem contar com a primária. NUNCA, em qualquer um desses anos, me foi ensinado o que foi o 25 de Abril.
Não sei a quantas pessoas terá acontecido o mesmo mas palpita-me que a muitas. Quando há dias li que o Ministério da Educação assinou um protocolo que visa mudar a forma como a Revolução dos Cravos é ensinada nas escolas a minha apreensão com esta questão não diminuiu. Mudar a forma? Eu já me teria dado por satisfeita se pura e simplesmente me tivessem falado dela.
Nunca houve livros na minha casa nem jornais. Os meus pais eram politicamente desinteressados e não tive na família um tio ou avô perseguido pela PIDE. Na minha aldeia não há nem nunca houve uma biblioteca. A mais próxima fica a 8 km e só a pude frequentar a partir dos 15 anos quando fui para uma escola nas suas redondezas. Por todas estas razões eu podia apenas contar com a escola para me transmitir conhecimentos.
Tive alguns professores de história fabulosos mas incapazes de lidar com programas cuja extensão nunca lhes permitia sequer chegar a meio. É mais fácil abrir a boca de espanto quando hoje à noite se vir no Telejornal a habitual sondagem de rua aos adolescentes que não sabem o que foi a Revolução, do que apontar o dedo à escola e aos sucessivos governos que se preocupam com todos os papéis que a escola deve desempenhar mas se esquecem do básico: dar conhecimento dos factos.
Eu tinha contudo uma desculpa que não me parece que os jovens de hoje tenham. Eu não tinha como aceder à informação. Não tinha sequer computador nem imaginava que chegaria o dia em que uma coisa chamada Internet pudesse vir a existir. Por isso assumo aqui que era já bem crescidinha quando percebi o que tinha sido o 25 de Abril e como era o meu país antes desse dia.
Como se isto não bastasse também nunca me ensinaram na escola o que foi a instauração da República, a 1ª ou a 2ª Guerra Mundial. Por aquilo que a escola me ensinou a história de Portugal acabou com o ultimato inglês de 1890!


3 comentários:

Anónimo disse...

Ora bem... tendo uns aninhos a mais, posso dizer que no meu caso o ensino sobre o 25 de Abril foi exactamente o mesmo.

Na altura fiquei com a sensação que por uma razão estranha havia vontade de ocultar esta etapa da história de Portugal.

Pela parte que me toca a história de Portugal ficou-se pela instauração da répública... depois disso NADA!

Tenho no entanto gravadas na memória, algumas das imagens da libertação dos prisioneiros da PIDE... admito que fiquei marcada, chocada! Não sei como reagiria agora ao rever essas mesmas imagens, mas na altura com 5 anitos, foi dificil de ver e compreender!

Beijões

varna disse...

...e no entanto os descobrimentos, conquistas de d. afonso henriques e batalhas (ganhas, claro) contra os espanhois, tudo isso é mais do que ensinado! talvez daqui a uns 20 anos se ensine também que a selecção de portugal chegou à final do euro 2004...

s.ibéria disse...

Enxofre, peço perdão pela ma educação. Tenho o habito de dar a s boas vindas a quem aqui aparece pela primeira vez mas uma semana de trabalho intenso impediu-me que o fizesse.
Quanto ao comentario eu não podia estar mais de acordo.