quarta-feira, 11 de julho de 2007

Game, set, match

Caríssimo leitor, se não gosta de desporto em geral e ténis em particular, então é melhor ir ver televisão. Mas aviso já que não o espera nada melhor: o Daniel Oliveira atrás da porta n° 1, o Graciano atrás da porta n° 3 e a sô dona Júlia atrás da porta n° 4. Neste cenário se estiver a bota Botilde atrás da porta n°2 é um grande prémio.
Não pratico desporto por falta de tempo. Há uns anos atrás ainda tinha umas horas semanais para ginásio mas hoje nem isso. Permanece contudo o apreço pelo desporto enquanto espectadora. E na qualidade de espectadora a temporada desportiva de verão acabou no domingo com a final masculina do torneio de Wimbledon.
Tenho acompanhado futebol ao longo da vida ao ponto de preencher cadernetas de cromos quando era miúda, com particular preferência pelas de caricaturas. Quem sobrevive às caricaturas do Manuel Bento e do Frasco e dos seus respectivos bigodes está preparado para tudo. Mas à medida que a desilusão com o futebol, para o que as caricaturas em nada contribuiram, se ia instalando, crescia o gosto pelo ténis.
Como não venho de uma família de betos nunca joguei ténis nem tive quem me explicasse as regras. Só para avisar que esta é a perspectiva de alguém que nunca praticou a modalidade e que aprendeu tudo o que sabe à custa de horas infindáveis em frente à televisão e a copiar o desenho de um “court” a partir de uma enciclopédia. Portanto se estão à espera de teses sobre “amorties” e “passing shots” é melhor procurar noutro lado.
Quando alguém diz que "detesta os aficionados do ténis" eu quase penso que me detesta a mim. Mas depois recupero a auto estima que nunca tive porque isto de aficionado é coisa de tourada e eu nunca gostei de homens em “collants”.
Não percebo como é que se pode achar que “o ténis é uma ritualização do combate levada a um extremo absurdo, porque não há contacto físico entre os jogadores”. Eu não vejo isso como uma coisa má. Sou uma mulher jovem, tenho as minhas fantasias, mas ver o Nadal e o Federer aos abracinhos e apalpões não é uma delas. E se “no ténis ninguém se lesiona por causa do adversário” eu não me importo. O meu conceito de desporto não inclui ver os participantes saírem de maca. Se eu quiser ver isso pego no carro e dou umas voltinhas pelos caminhos de Portugal, la la la la la ...
Não concordo de todo que “até a Fórmula 1 consegue ser menos entediante”. Eu consigo aborrecer-me em frente a um televisor durante duas horas a ouvir v v v v v v v e a ver carros a passar pela meta várias vezes mas só depois de passar mais de 50 vezes é que parece que vale.
O post que aqui estou a citar foi escrito por um homem. E deve ser heterossexual. É o que se conclui depois de ler isto: “o ténis é um desporto sinistro. Sinistro, sim. Como se explica que os jogadores de ténis sejam em regra muito mais giros do que os praticantes de outras modalidades”.Isto só tem mesmo desculpa, lá está, porque foi um homem que escreveu. Um homem que obviamente percebe muito mais de ténis do que eu mas não percebe nada de beleza masculina. Roger Federer não é um homem bonito e Rafael Nadal ainda menos. Isto para falar nos que estão na berra, porque exemplos de trambolhos no ténis não faltam: Guillermo Coria, Jim Courier, Nikolay Davidenko, Ivan Lendl, Wayne Ferreira, Leyton Hewitt, Petr Corda, Gustavo Kuerten, John McEnroe. E isto é só uma amostra. Sim, há Alex Corretja, é verdade, mas não quero falar dele porque não se deve misturar deuses com temas profanos.
Mas há mais: “O ténis é também o único desporto que sai beneficiado sempre que falta o som”. Pois, calculo que a Fórmula 1 sem o v v v v v v v constante perca a pica e o futebol é muito mais interessante com som, em especial quando os comentários são do Gabriel Alves. Ou, melhor ainda, quando os microfones estão estrategicamente colocados junto ao banco de suplentes e nós podemos disfrutar dos cara**** e fo**-** tão efusivamente proferidos. É poesia para os ouvidos.
E por falar em poesia, onde é que para além do ténis podemos encontrar uma modalidade desportiva com a pontuação a usar o termo “love”? Simplesmente amoroso!
Hoje aprendi contudo uma grande lição: “nunca escrevas um post em reacção a outro sem leres o primeiro até ao fim”. Isto vai passar a ser uma espécie de mandamento. Mandamento que se eu tivesse seguido tinha chegado à frase decisiva em que o autor assume ser “um sportinguista de esquerda [que] frequentou as escolas de ténis do Benfica”. Como já terão reparado a única palavra correcta aqui é “sportinguista” que peca apenas por não estar escrito em maiúsculas, a bold, sublinhado e com estrelinhas à volta. Mas aquela frase explica tudo.
Agora, para quem acha o ténis entediante, é só sintonizar a Eurosport ou a RTPN que estão a passar aquele momento verdadeiramente empolgante do desporto mundial chamado “Tour de France”.

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